terça-feira, fevereiro 10, 2009

John Cage e o silêncio


"Quando eu ouço o que nós chamamos de música, tenho a impressão de que alguém está falando... falando sobre os seus sentimentos, ou sobre suas idéias a respeito dos relacionamentos. Mas quando eu ouço o tráfego, o som do tráfego aqui na 5th Avenue por exemplo, eu não tenho a sensação de que alguém está falando. Eu tenho a sensação de que o som está agindo. E eu amo a atividade do som. O que ele faz é ficar mais largo e mais compacto, mais baixo e mais alto, mais longo e mais curto. Ele faz todas essas coisas, e eu estou totalmente satisfeito com isso. Eu não preciso que o som fale comigo.

Nós não vemos muita diferença entre tempo e espaço. Nós não sabemos quando um começa e o outro pára...(risos!). Então, nós pensamos a maioria das artes como estando no tempo e no espaço. Marcel Duchamp, por exemplo, começou a pensar na música como sendo não uma arte no tempo, mas uma arte que acontece no espaço. E ele fez uma peça chamada “sculpture musical”, o que significa: sons diferentes, vindos de diferentes lugares, e durando... produzindo uma escultura, que é sonora, e que permanece.

As pessoas esperam que a escuta seja mais que escutar. E então, às vezes, falam de “escuta interior”, ou do “sentido do som”.

Quando eu falo sobre música , finalmente fica claro para algumas pessoas que eu estou falando sobre som, que não significa nada. Não há ‘interior’, é só exterior. E essas pessoas, que finalmente entendem isso, dizem : ”Você quer dizer que são apenas sons?”, pensando que o fato de algo ser “só som” significa que seja algo inútil.

Eu amo os sons do jeito que eles são! E eu não tenho nenhuma necessidade de que eles sejam qualquer coisa além do que eles são. Eu não quero que eles sejam psicológicos, eu não preciso que o som finja ser um balde, ou que seja presidente, ou que esteja apaixonado por outro som... (risos!!). Eu só quero que seja um som.

E eu não sou tão tolo também! Houve um filósofo alemão muito conhecido, chamado Emmanuel Kant. Ele disse que existem duas coisas que não precisam significar nada: uma é a música, e a outra é o riso! (risos!!) Essas duas coisas não devem significar nada, no sentido de que nos dão um prazer muito profundo.

A experiência sonora que eu prefiro, a todas as outras, é a experiência do silêncio. E o silêncio, em quase toda parte do mundo atual, é o tráfego. Se você ouvir Beethoven ou Mozart, você vê que eles são sempre os mesmos. Mas se você ouve o tráfego, é sempre diferente."

(transcrição-tradução Laus)

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