domingo, outubro 26, 2008

sonografia de um domingo qualquer


não foi um domingo qualquer.
acordei mais tarde do que gostaria, mais cedo do que a maioria das pessoas.
um grito guardado inflamava minha garganta, e eu estava imersa em silêncio - um silêncio cúbico, denso e úmido.
fugindo do som abafado dos meus pensamentos, logo saí pra rua.
a rua, cansada do barulho das obras, dormia.
nem parecia dia de eleição. apenas algumas pessoas sonâmbulas, mudas e surdas, passavam. o som irritante da urna eletrônica: agudo, rápido e sem volta.

na avenida paulista, quase se podia ouvir o som do concreto derretendo.
um homem velho e desalinhado tocava saxofone embaixo da guarita da polícia. um monte de músicas românticas faziam trilha sonora para a longa espera do ônibus que não chegava. à espera do telefone que não tocava. e no meu estômago um furacão de borboletas soava em segredo. pelo resto do dia eu ficaria com a música do Cartola na cabeça. resolvi parar de esperar e fui até a feirinha de animais. um gatinho preto de barbicha branca miou pra mim, andou sedutoramente de um lado pro outro e voltou a deitar. os outros estavam todos com muito calor, dormindo pesado, talvez sonhando com o canto de um passarinho.

depois: as risadas de minhas amigas. o som mais doce e vivo que pode existir. uma onda de reconforto e simplicidade de viver. e eu queria te contar todo o resto, mas não sei você não se interessa tanto assim.

mais um domingo comum de eleição: o centro ganhou. a periferia continuou invisível. nas salas de espera e elevadores, o som dos tambores ainda não conseguiu estraçalhar a bolha blindada.

mas pelo menos o timão está de volta...

e viva Cartola!

4 comentários:

Anônimo disse...

...eu quero saber sim!

Anônimo disse...

:)
então saiba.

mamis disse...

porque já não nascemos sabendo só ser? Seria mais fácil ser só...

Ludimila Hashi disse...

Muito bom! Poética...