quinta-feira, outubro 30, 2008

Suite For Cello & Jazz Piano Trio


Descobri este álbum escutando a Cultura FM no carro, numa segunda-feira à noite. Já estava quase atrasada para uma aula e fiquei parada na frente da escola esperando a música acabar pra ouvir o nome do autor e tudo mais, mas a coisa não acabava nunca! (Felizmente ainda existem rádios capazes de tocar uma música de quase 12 minutos!). Era uma daquelas descobertas doces que a gente não pode deixar passar. Uma mistura deliciosa de erudito e popular, de lirismo e irreverência, de tudo que há de mais fino no barroco, no clássico e no jazz. Enfim, liguei correndo para o meu pai e pedi pra ele ligar na rádio e ouvir os nomes pra mim. Ele não conseguiu ouvir a tempo, mas escreveu para a rádio e o pessoal, muito solícito, respondeu logo em seguida.

Eu tinha pensado até que seria alguma coisa brasileira, porque tinha um balanço incrível. Alguns momentos lembram um galope no sertão, alguma coisa que podia ser do Villa-Lobos talvez. Mas não. Era o francês Claude Bolling ao piano e o franco-chinês, maravilhoso, Yo-Yo Ma no violoncello. ClAro! Aquele cello só podia ser dele. Ele, que no movimento Concertante, quase fez um som de rabeca que quase me levou pro sertão. Ele que gravou o "Obrigado Brazil" (rs), com o Cyro Baptista e muitos outros. Sim, eu sabia que alguém ali tinha que ter pisado (só no sapatinho...) no Brasil.

A composição é de Claude Bolling, nascido em 1930, na cidade de Cannes. Estudou piano e composição no Conservatório de Nice, e depois em Paris. Criança prodígio, aos 14 anos já fazia parte de um grupo de jazz, do qual participavam Lionel Hampton, Roy Eldridge e Kenny Clark. Foi com essa fusão entre o clássico e o jazz que ele começou a se destacar internacionalmente, se tornando uma referência importante do jazz francês a partir dos anos 50.

Yo-Yo Ma (ou "Ma", para os mais íntimos que escrevem a Wikipedia), nascido também na França (Paris) 25 anos depois de Bolling, começou a tocar violoncelo com aproximadamente 6 anos de idade. Ele é citado pela crítica como um dos músicos mais ecléticos de um instrumento erudito. Alguns dos destaques da sua carreira são as interpretações das suítes para violoncelo solo de Bach e as versões dos tangos de Astor Piazzola. Ele está sempre buscando juntar "músicos e músicas" dos mais diversos lugares, por exemplo tocando com músicos das savanas africanas ou patrocinando uma orquestra árabe-israelense. Conforme anúncio do secretário geral das Nações Unidas, Kofi Annan, em janeiro de 2006, Ma se uniu à lista dos embaixadores da paz da ONU, a exemplo de vários outros músicos, como o jazzista Wynton Marsalis, entre outros.

Enfim. Nesse álbum também juntaram-se a eles Marc Michel, no baixo, e Jean-Luc Dayan, na bateria, sobre os quais estou com preguiça de pesquisar agora, mas que com certeza foram indispensáveis para a composição dessa colorida e divertida cozinha que aparece na capa do disco. E a cozinha me faz lembrar algo que andei aprendendo nesse mesmo curso para o qual eu estava indo quando descobri esse som. É que o termo "cozinha" é usado para denominar a primeira etapa de um processo de gravação, onde são gravados os instrumentos da seção rítmica, ou seja, a base da música. Geralmente, é recomendado que esses instrumentos de base sejam gravados simultaneamente, pois só assim é possível conseguir um verdadeiro "balanço" para a música. E isso se aplica principalmente no jazz, onde é praticamente indispensável que os instrumentos estejam em constante diálogo, intereferindo uns nos outros. Não sei se já estou viajando demais, nem sei se essa história de cozinha também existe em outras línguas (mas acho que sim), só sei que imaginei que esse disco tenha sido gravado todo na cozinha. Sem coberturas ou overdubs posteriores, tudo bem fresquinho e feito na hora. Pode ser que sim, pode ser que não. O que importa é o que interessa: o som é bom.

Claude Bolling - Suite for Cello and Jazz Piano Trio

1. Baroque in rhythm
2. Concertante
3. Galop
4. Ballade
5. Romantique
6. Cello fan

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